OS TIPOS DE CONHECIMENTO HUMANO

INSTITUTO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE CHIBUTUTUÍNE






                                                


Nomes dos Formandos:                                                                      Números
Fernando Luís Gandanga                                                                          11
Rafael Rúben Cuna                                                                                   27
Turma R2
Nome do Formador: Ernesto Cuambe





ABRIL, 2018

OS TIPOS DE CONHECIMENTO HUMANO
No processo de apreensão da realidade do objecto, o sujeito ignescente pode penetrar em todas as esferas do conhecimento: ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma série de conclusões sobre a sua actuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência quotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando através de investigação experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções; pode-se questioná-lo quanto à sua origem e destino, assim como quanto à sua liberdade; finalmente, pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, à sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados.
Apesar da separação metodológica entre os tipos de conhecimento popular, filosófico, religioso e científico, estas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa: um cientista, voltado, por exemplo, ao estudo da física, pode ser crente praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida quotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum.
Para melhor entender cada um desses tipos de conhecimento, vamos inicialmente traçar um paralelo entre o conhecimento científico e o conhecimento popular, para depois sinteticamente identificar o que caracteriza cada um deles.
O conhecimento científico e outros tipos de conhecimento
Ao se falar em conhecimento científico, o primeiro passo consiste em diferenciá-lo de outros tipos de conhecimentos existentes. Para tal, analisemos uma situação muito presente no nosso quotidiano.
O parto no âmbito popular e o parto no âmbito da ciência da medicina.
Tipos de conhecimentos que encontram-se mesclados neste exemplo:
Empírico, popular, vulgar, transmitido de geração em geração por meio da educação informal e baseado na imitação e na experiência pessoal.
Científico, conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos científicos. Visa explicar "por que" e "como" os fenómenos ocorrem.

Correlação entre Conhecimento Popular e Conhecimento Científico
O conhecimento vulgar ou popular, também chamado de senso comum, não se distingue do conhecimento nem pela veracidade, nem pela natureza do objecto conhecido. O que diferencia é a FORMA, O MODO OU O MÉTODO E OS INSTRUMENTOS DO CONHECER.
Aspectos a considerar:

Características do Conhecimento Popular

Se o "bom senso", apesar de sua aspiração à racionalidade e objectivo, só consegue atingir essa condição de forma muito limitada, pode-se dizer que o conhecimento vulgar, popular, latusensu, é o modo comum, corrente e espontâneo de conhecer, que se adquire no trato directo com as coisas e os seres humanos.
"É o saber que preenche a nossa vida diária e que se possui sem o haver procurado ou estudado, sem a aplicação de um método e sem se haver reflectido sobre algo". (Babini, 1957:21).

Verificamos que o conhecimento científico diferencia-se do popular muito mais no que se refere ao seu contexto metodológico do que propriamente ao seu conteúdo. Essa diferença ocorre também em relação aos conhecimentos filosóficos e religioso (teológico).
Apresentamos abaixo, em linhas gerais, as características principais dos quatro tipos de conhecimento: popular, filosófico, teológico e científico.

CONHECIMENTO POPULAR

Superficial - conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas.
Sensitivo - referente a vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária.
Subjectivo - é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos.
Assistemático - a organização da experiência não visa a uma sistematização das ideais, nem da forma de adquiri-las nem na tentativa de validá-las.
Acrítico - verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica.

CONHECIMENTO FILOSÓFICO

Valorativo - seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação. As hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência e não na experimentação.
Não verificáveis - os enunciados das hipóteses filosóficas não podem ser confirmados nem refutados.
Racional - consiste num conjunto de enunciados logicamente correlacionados.
Sistemático - suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade.
Infalível e exacto - suas hipóteses e postulados não são submetidos ao decisivo teste da observação, experimentação.
A filosofia encontra-se sempre à procura do que é mais geral, interessando-se pela formulação de uma concepção unificada e unificante do universo. Para tanto, procura responder às grandes indagações do espírito humano, buscando até leis mais universais que englobem e harmonizem as conclusões da ciência.

CONHECIMENTO RELIGIOSO OU TEOLÓGICO

Apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas, valorativas, por terem sido reveladas pelo sobrenatural, inspiracional e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis, indiscutíveis e exactas. É um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino. Suas evidências não são verificadas. Está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado.
O conhecimento religioso ou teológico parte do princípio de que as verdades tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em revelações da divindade, do sobrenatural.



CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Real, factual - lida com ocorrências, fatos, isto é, toda forma de existência que se manifesta de algum modo.
Contingente - suas proposições ou hipóteses têm a sua veracidade ou falsidade conhecida através da experimentação e não pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico.
Sistemático - saber ordenado logicamente, formando um sistema de idéias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos.
Verificável - as hipóteses que não podem ser comprovadas, não pertencem ao âmbito da ciência.
Falível - em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final.
Aproximadamente exacto - novas proposições e o desenvolvimento de novas técnicas podem reformular o acervo de teoria existente.

MÉTODOS CIENTÍFICOS

Todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam estes métodos são ciências. Dessas afirmações podemos concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada exclusiva da ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos.

Conceitos de método

"Caminho pelo qual se chega a determinado resultado, ainda que esse caminho não tenha sido fixado de antemão de modo reflectido e deliberado". (Hegenberg, 1976:II-115)6.

"Forma de seleccionar técnicas e avaliar alternativas para acção científica". (Ackoff In: Hegenberg, 1976:II-116)2.

"Forma ordenada de proceder ao longo de um caminho". (Trujillo, 1974:24)3

"Ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir um fim dado". (Jolivet, 1979:71)4.

"Conjuntos de processos que o espírito humano deve empregar na investigação e demonstração da verdade". (Cervo e Bervian, 1978:17)5.

"Caracteriza-se por ajudar a compreender, no sentido mais amplo, não os resultados da investigação científica, mas o próprio processo de investigação". (Kaplan In: Grawitz, 1975:I-18)6.

Desenvolvimento histórico do método
A preocupação em descobrir e, portanto, explicar a natureza vem desde os primórdios da humanidade, quando as duas principais questões referiam-se às forças da natureza, a cuja mercê viviam os homens, e à morte. O conhecimento mítico voltou-se à explicação desses fenómenos, atribuindo-os a entidades de carácter sobrenatural. A verdade era impregnada de noções supra-humanas e a explicação fundamentava-se em motivações humanas, atribuídas a "forças" e potências sobrenaturais.

À medida que o conhecimento religioso se voltou, também, para a explicação dos fenómenos da natureza e do carácter transcendental da morte, como fundamento de suas concepções, a verdade revestiu-se do carácter dogmático, baseada em revelações da divindade. É a tentativa de explicar os acontecimentos através de causas primeiras, os deuses, sendo o acesso dos homens ao conhecimento derivado da inspiração divina. O carácter sagrado das leis, da verdade, do conhecimento, como explicações sobre o homem e o universo, determina uma aceitação sem crítica dos mesmos, deslocando o foco das atenções para a explicação da natureza da divindade.

O conhecimento filosófico, por sua vez, parte para a investigação racional na tentativa de captar a essência imutável do real, através da compreensão da forma e das leis da natureza.

O senso comum, aliado à explicação religiosa e ao conhecimento filosófico, orientou as preocupações do homem com o universo. Somente no século XVI é que se iniciou uma linha de pensamento que propunha encontrar um conhecimento embaçado em maiores garantias, na procura do real. Não se buscam mais as causas absolutas ou a natureza íntima das coisas; ao contrário, procuram-se compreender as relações entre elas, assim como a explicação dos acontecimentos, através da observação científica, aliada ao raciocínio.
Da mesma forma que o conhecimento se desenvolveu, o método, a sistematização de actividades, também sofreu transformações. O pioneiro a tratar do assunto, no âmbito do conhecimento científico, foi Galileu Galilei, primeiro teórico do método experimental. Discordando dos seguidores do filósofo Aristóteles, considera que o conhecimento da essência íntima das substâncias individuais deve ser substituído, como objectivo das investigações, pelo conhecimento das leis que presidem os fenómenos. As ciências, para Galileu, não têm, como principal foco de preocupações, a qualidade, mas as relações quantitativas. Seu método pode ser descrito como indução experimental, chegando-se a uma lei geral através de da observação de certo número de casos particulares. Os principais passos de seu método podem ser assim expostos: observação dos fenómenos; análise dos elementos constitutivos desses fenómenos, com a finalidade de estabelecer relações quantitativas entre eles; indução de certo número de hipóteses; verificação das hipóteses aventadas por intermédio de experiências; generalização do resultado das experiências para casos similares; confirmação das hipóteses, obtendo-se, a partir delas, leis gerais.

Contemporâneo de Galileu, Francis Bacon também partiu da crítica a Aristóteles, por considerar que o processo de abstracção e o silogismo (dedução formal que, partindo de duas proposições, denominadas premissas, delas retira uma terceira, nelas logicamente implicadas, chamada conclusão) não propiciam um conhecimento completo do universo. Parte do pressuposto de que o conhecimento científico é o único caminho seguro para a verdade dos fatos, devendo seguir os seguintes passos: experimentação; formulação de hipóteses; repetição; testagem das hipóteses, formulação de generalizações e leis.

Ao lado de Galileu e Bacon, no mesmo século, surge Descartes. Com sua obra, Discurso do Método, afasta-se dos processos indutivos, originando o método dedutivo. Para ele, chega-se à certeza através da razão, princípio absoluto do conhecimento humano. Postula, então, quatro regras: evidência, que diz para não acolher jamais como verdadeira uma coisa que não se reconheça evidentemente como tal, isto é, evitar a precipitação e o preconceito e não incluir juízos, senão aquilo que se apresenta com tal clareza ao espírito que torne impossível a dúvida; análise, que consiste em dividir cada uma das dificuldades em tantas partes, quantas necessárias para melhor resolvê-las, ou seja, o processo que permite a decomposição do todo em suas partes constitutivas, indo sempre do mais para o menos complexo; síntese, entendida como o processo que leva à reconstituição do todo, previamente decomposto pela análise, consistindo em conduzir ordenadamente os pensamentos, principiando com os objectos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, em seguida, pouco a pouco, até o conhecimento dos objectos que não se disponham, de forma natural, em sequências de complexidade crescente; enumeração, que consiste em realizar sempre enumerações tão cuidadosas e revisões tão gerais que se possa ter certeza de nada haver omitido.

Com o passar do tempo, muitas outras visões foram sendo incorporadas aos métodos existentes, fazendo com que surgissem também outros métodos, como veremos adiante. Antes, porém, cabe apresentar o conceito de método moderno, independente do tipo. Para tal, será considerado que o método científico é a teoria da investigação e que esta alcança seus objectivos, de forma científica, quando cumpre ou se propõe a cumprir as seguintes etapas:
Descobrimento do problema - ou lacuna, num conjunto de acontecimentos. Se o problema não estiver enunciado com clareza, passa-se à etapa seguinte; se estiver, passa-se à subsequente;
Colocação precisa do problema - ou ainda, a recolocação de um velho problema à luz de novos conhecimentos (empíricos ou teóricos, substantivos ou metodológicos);
Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema - ou seja, exame do conhecido para tentar resolver o problema;
Tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados - se a tentativa resultar inútil, passa-se para a etapa seguinte, em caso contrário, à subsequente;
Invenção de novas ideias - hipóteses, teorias ou técnicas ou produção de novos dados empíricos que prometam resolver o problema;
Obtenção de uma solução - exacta ou aproximada do problema, com o auxílio do instrumental conceitual ou empírico disponível;
Investigação das consequências da solução obtida - em se tratando de uma teoria, é a busca de prognósticos que possam ser feitos com seu auxílio. Em se tratando de novos dados, é o exame das consequências que possam ter para as teorias relevantes;
Prova ou comprovação da solução - confronto da solução com a totalidade das teorias e da informação empírica pertinente. Se o resultado é satisfatório, a pesquisa é dada como concluída, até novo aviso. Do contrário, passa-se para a etapa seguinte;
Correcção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obtenção da solução incorreta - esses são, naturalmente, o começo de um novo ciclo de investigação.

Métodos específicos das Ciências Sociais
A maioria dos autores faz distinção entre "método"e "métodos", porém, se de um lado a diferença ainda não ficou clara, de outro, continua-se utilizando o termo "método" para tudo.
Como uma contribuição às tentativas de fazer distinção entre os dois termos, diríamos que o "método"se caracteriza por uma abordagem mais ampla, em um nível de abstracção mais elevado, dos fenómenos da natureza e da sociedade. Assim, teríamos, em primeiro lugar, o método de abordagem assim discriminado:
Método Indutivo - cuja aproximação dos fenómenos caminha geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações mais particulares às leis e teorias (conexão ascendente);
Método Dedutivo - que, partindo das teorias e leis, na maioria das vezes previa a ocorrência dos fenómenos particulares (conexão descendente);
Método Hipotético-dedutivo - que se inicia por uma percepção de uma lacuna nos conhecimentos, acerca da qual formula hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenómenos abrangidos pela hipótese.
Método dialéctico - que penetra o mundo dos fenómenos, através de sua acção recíproca, da contradição inerente ao fenómeno e da mudança dialéctica que ocorre na natureza e na sociedade.
Por sua vez, os "métodos de procedimento" seriam etapas mais concretas da investigação, com finalidade menos abstracta e mais restrita em termos de explicação geral dos fenómenos. Dir-se-ia até serem técnicas que, pelo uso mais abrangente, se erigiram em métodos. Pressupõem uma atitude concreta em relação ao fenómeno e estão limitadas a um domínio particular. São as que veremos a seguir, na área restrita das ciências sociais, em que geralmente são utilizados vários, concomitantemente.
Método Histórico - consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje. Para melhor compreender o papel que actualmente desempenham na sociedade, remonta aos períodos de sua formação e de suas modificações;
Método Comparativo - é utilizado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os actuais e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento;
Método Monográfico - consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, instituições, condições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações;
Método Estatístico - significa a redução de fenómenos sociológicos, políticos, econ6omicos etc, em termos quantitativos. A manipulação estatística permite comprovar as relações dos fenómenos entre si, e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado;
Método Tipológico - apresenta certas semelhanças com o método comparativo. Ao comparar fenómenos sociais complexos, o pesquisador cria tipos ou modelos ideais (que não existam de fato na sociedade), construídos a partir da análise de aspectos essenciais do fenómeno;
Método Funcionalista - é a rigor mais um método de interpretação do que de investigação. Estuda a sociedade do ponto de vista da função de suas unidades, isto é, como um sistema organizado de actividades;
Método Estruturalista - o método parte da investigação de um fenómeno concreto, eleva-se, a seguir, ao nível abstracto, por intermédio da construção de um modelo que represente o objeto de estudo, retomando por fim ao concreto, dessa vez como uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social.







Bibliografia de Apoio

BUNGE, Mário. Epistemologia: curso de actualização. São Paulo: T. A. Queiroz/EDUSP, 1980, capítulo 2.

HEGENBERG, Leónidas. Explicações científicas: introdução à filosofia da ciência. São Paulo: E.P.U. EDUSP, 1973, segunda parte, capítulo 5.


LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. São Paulo: Editora Atlas, 1991.

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