Vida e obra de São Tomás de Aquino

Introdução
Neste presente trabalho, abordar-se-à sobre a Vida e Obra de São Tomás de Aquino, particularmente da relação por ele estabelecida entre o poder do príncipe e a governação da cidade de  Deus e do Mundo.
Um dos principais filósofos do período conhecido como escolásticaTomás de Aquino foi um filósofo da idade média proponente da teologia natural, disciplina dedicada a provar a existência de Deus ou de seus atributos por modos puramente filosóficos, e originador do tomismo, uma tentativa de conciliar as posições e métodos de Aristóteles com o cristianismo, adotado como a principal corrente filosófica oficial da Igreja Católica. Diversos aspectos da filosofia ocidental floresceram como respostas a posicionamentos de Aquino, com influência na ética, teoria politica e metafísica.
Duma forma resumida, o presente trabalho procura falar dos factores que influenciaram para o desenvolvimento daesta tese, e os critérios que São Tomás usou para formular as suas leis sobre a governação.




São Tomás de Aquino

Breve Historial

Tomás de Aquino nasceu em 1225, em Aquino, uma comuna italiana, no Castelo de Roccasecca. Filho do Conde Landulf de Aquino, teve uma influente e apropriada educação; estudou na abadia de Roccasecca, no Mosteiro da Ordem de São Bento de Cassino. Mais tarde, ingressou na Universidade de Nápoles, na Cátedra “Artes Liberais”.
Com apenas 19 anos, em 1244, abandona o curso e decide seguir sua vocação religiosa tornando-se dominicano, ao ingressar na Ordem dos Dominicanos, no convento Saint Jacques, em Paris. Permaneceu alguns anos em Paris, cidade importante para seu desenvolvimento espiritual, intelectual e profissional.
Entretanto, foi na cidade de Colônia, na Alemanha, que Aquino escreve suas primeiras obras, sendo discípulo do bispo, filósofo e teólogo alemão Santo Alberto Magno (1206 d.C-1280 d.C.), conhecido como Alberto, o grande.
Mais tarde, em 1252, Tomás de Aquino retorna à Paris donde se gradua em Teologia e seguindo a carreira de professor. Ademais, ministrou aulas em Roma, Nápoles e outras cidades da Itália. Ficou conhecido como Doutor Angélico, cujo trabalho de vida esteve dedicado a fé, a esperança e a caridade constituindo assim, um pregador cristão da razão e da prudência.
Foi um dos defensores da Escolástica, método dialético que pretendia unir a fé a razão em prol do crescimento humano. Uma de suas maiores obras, Summa Theologica, é o maior exemplo da Escolástica, na qual apresenta relações entre a ciência, razão, filosofia, fé e teologia. Segundo Aquino, “Nada há no intelecto que antes não tenha passado pelos sentidos.”
Faleceu na cidade de Fossanova, Itália, no dia 7 de março de 1274, com apenas 49 anos de idade.

Filosofia de São Tomás de Aquino

Tomás de Aquino não é um autor particularmente original no que toca à doutrina política. O Doutor Angélico inspira-se de Aristóteles e também dos Padres, particularmente de S. Agostinho. No que toca, por exemplo à constituição do Estado, S. Tomás inspira-se de Aristóteles, de Cícero, da Bíblia e da feudalidade da Idade Média.
Não admira que encontremos no decurso da sua exposição sobre esta doutrina hesitações várias. A sua doutrina está muito longe de ser um frio apriorismo; reflecte, pelo contrário, um vivo sentimento e uma clara intuição da vida humana, cimentada sobre um grande material de factos e de observações. Esta parte da doutrina tomista tem um especial interesse do ponto de vista histórico, porque encontra aqui pela primeira vez a unidade da doutrina político-social aristotélica, com a concepção agostiniana do Estado, aceite pela escolástica anterior, limada de algumas asperezas. Cito Baumker: "Ninguém influi tanto como o Angélico na aceitação das doutrinas sociais de Aristóteles pela nova elaboração e reconstrução íntima que delas fez".
O seu génio esteve menos em inovar do que em incorporar ao idealismo agostiniano o empirismo aristotélico, fixando como fim do Estado a felicidade temporal, num sentido muito próximo de Aristóteles, ordenando-o a seguir à felicidade eterna, no horizonte da Cidade de Deus que Agostinho sonha.
Na esteira de S. Jerónimo e Eusébio de Cesareia, Agostinho concebe a história da humanidade como a realização de um plano oculto de Deus para a sua salvação. Mas este plano - marcado embora por uma certa predestinação - não deve anular a liberdade e a responsabilidade do homem, nem o seu livre-arbítrio ou a possibilidade de ser recusado por uma parte da humanidade. Embora seja inegável que há no seu pensamento político poderosos elementos democráticos. Os elementos esboçados no corpus da sua obra aparecem-nos ao nível dos princípios gerais, o seu desenho não é nunca concreto.
A visão agostiniana da "Cidade de Deus" - significando a comunidade cristã ou ecclesia enquanto antecipação do reino - supõe uma realização gradual da história e uma longa luta contra a "Cidade Terrena": "(no primeiro homem criado tiveram origem, juntamente com o género humano, duas sociedades, como que duas cidades. Dele, efectivamente, haviam de proceder homens destinados a partilhar, uns os suplícios dos anjos maus e outros a recompensa dos bons. E isto por um oculto (mas nem por isso menos justo) juízo de Deus".
Desde os primeiros séculos da nossa era que se distingue, à romana, a auctoritas e a potestas . Julgou-se o pensamento de Agostinho sobre a vida em sociedade a partir de alguns acontecimentos particulares do seu combate contra os donatistas. Agostinho justapõe as duas Cidades, a celeste e a terrestre, cada uma com a sua ordem própria (o Estado, de fac to subordinado à Igreja). Não falta quem veja no bispo de Hipona o campeão do apelo ao poder secular do Imperador para reduzir os adversários da Igreja. Mas estes acontecimentos particulares não permitem avançar para uma teoria agostianiana da gestão teocrática das sociedades cristãs. O olhar de Agostinho é bem mais matizado.
A Cidade terrestre tem a sua consistência própria. Pode mesmo ser o lugar da oposição a Deus; pode ser também o lugar em que se implementa uma ordem das coisas conforme ao apelo de Deus. Isso é particularmente visível na meditação de Agostinho sobre a paz. A observação de Serge Lancel dá conta da complexidade da relação entre as duas ordens: "A noção de monarquia de direito divino era bem a última ideia que podia ocorrer ao espírito de Agostinho, que se situava muito longe da teologia do Império - parente longínquo daquilo a que se chamará o cesaropapismo - desenvolvida um século mais tarde por Eusébio de Cesareia que esse, sim, não hesitou em ver em Constantino não apenas o instrumento do poder divino, como também a própria imagem do logos divino". De facto, a partir duma teologia centrada no Logos, Eusébio de Cesareia sacraliza a instituição imperial e o seu representante.
É esta teologia política que conhece uma longa posteridade no Ocidente cristão. Henri-Irénée Marrou denuncia esta interpretação dada da Cidade de Deus, na Idade Média, pelo agostianismo político: "O erro (...) tinha sido identificar a construção da Cidade cristã (...) com a edificação e o progresso (...) da Cidade de Deus". A visão da História que Agostinho propõe é uma visão teológica. As duas Cidades não podem separar-se uma da outra, de tal modo estão misturadas desde o princípio. Mas a prática hegemónica de um poder (espiritual) sobre outro (político) pode resumir-se naquilo que dizia o papa Gelásio, no século V ao imperador Anastácio. "São duas, na verdade, Imperador Augusto, através das quais este mundo é regido: a autoridade sagrada dos Pontífices e o poder dos Reis". De Gregório VII a S. Tomás de Aquino instalou-se "uma só e única sociedade com a sua religião oficial e necessária". Pode dizer-se então que o Pontífice põe o Imperador de joelhos. Eusébio pode ter ido demasiado longe no panegírico do Imperador e na glorificação do Imperium romanum, como o triunfo da unidade sobre a pluralidade, do monoteísmo sobre o politeísmo, mas o bispo ideólogo não confunde o imperador com Deus ou com Cristo.
Regimes em aberto
A doutrina de Tomás de Aquino é complexa demais para ser reduzida a um único ponto de vista. O seu primeiro ponto de vista é puramente teórico, muito semelhante àquele que adopta Platão na República . Trata-se de focar o paradigma ideal da cidade, intrinsecamente o melhor, sem atender às condições materiais ou históricas que o possibilitam. É assim que Tomás afirma a superioridade da realeza sobre os outros regimes em virtude da unidade que ela dá à sociedade e porque a unidade é o primeiro bem duma coisa e portanto da sociedade que é na medida em que é una. O segundo ponto de vista seria o do legislador a quem incumbe fundar ou organizar uma cidade, inspirando-se dum modelo ideal e de princípios, mas também tendo em conta todas as particularidades concretas. Algo como a situação em que se encontra Platão em As Leis : aqui todos os factores históricos, étnicos, geográficos, económicos, etc., são determinantes. Um terceiro ponto de vista, entre os dois, encararia o problema especulativamente, prevendo embora os factores concretos que podem intervir em geral.
Tomás de Aquino assimila, corrige e transforma muito do que o bispo de Hipona estabelecera, o mesmo fazendo a Aristóteles. Temos duas obras políticas, ambas incompletas, de S. Tomás. A primeira é De Regimine Principum (1265-1266) que vai até ao livro II, cap. 4, inclusive. O outro livro é o Comentário da Política de Aristóteles ( 1272) que vai até ao livro II, cap. 6 inclusive. Além destas duas obras, encontramos na Suma Teológica tratados de teologia social e política. Assim o tratado sobre as leis (I-II, q. 90-97), sobre a justiça (II-II, q. 57-78), e especialmente sobre a prudência , a virtude dos meios que tem na política (prudência política) a sua expressão mais cabal (II-II, q. 47-56).
O Doutor comum herda, primeiramente de Aristóteles a doutrina dos diversos regimes políticos. Segundo o ensinamento da Política o governo de um só, de alguns e do maior número, pode segundo a relação que mantém com o fim da cidade, ser bom ou mau. O governo justo dum só chama-se "monarquia" ou "reino"; quando é exercido por um pequeno número chama-se "aristocracia". Para designar o justo governo da multidão o Mestre utiliza em geral o termo de politia (répública). A corrupção destes três regimes chama-se "tirania", "oligarquia" e "democracia". Desde logo, o termo "democracia" não tem o mesmo sentido que lhe atribuímos hoje. A questão que se põe Tomás de Aquino é esta: é a politeia o melhor regime político?
O tratado De regno , do género espelho de príncipes, que lembra ao governante os seus deveres, dá-nos uma resposta imediata a esta interrogação: "Necesse est quod in humana multitudine optimum sit quod per unum regatur". M.-M. Cottier afirma no prefácio à tradução deste texto: "O De regno não contém a doutrina política completa de S. Tomás. Esta restrição significa que há outros textos de Tomás de Aquino que propõem para a mesma questão uma solução diferente. Vejamos qual.
O primeiro destes textos surge-nos no tratado da lei antiga da Iª-IIae, no qual Tomás examina o sentido dos preceitos judiciários, ao perguntar-se se estes afectam os governantes. Na primeira parte da resposta, antes de abordar o regime instituído pela lei antiga, Tomás esboça uma teoria geral sobre os princípios que é necessário respeitar na organização política: "Dois pontos há que observar na boa organização do governo duma cidade ou duma nação. Antes de mais que toda a gente participe mais ou menos no governo porque aí reside, de acordo com o segundo livro da Política , uma garantia de paz civil, e todos acarinham e sustentam um tal estado de coisas.
O outro ponto diz respeito à forma do regime ou da organização dos poderes; sabe-se que há vários, distinguidos por Aristóteles, mas os mais notáveis são a realeza, ou dominação dum só segundo a virtude, a aristocracia, isto é, o governo dos melhores, ou dominação de um pequeno número segundo a virtude. Eis portanto a melhor organização para o governo duma cidade ou de um reino: à cabeça está colocado, em razão da sua virtude, um chefe único.
Evidentemente, a multidão não é estranha ao poder assim definido, todos têm a possibilidade de ser eleitos e eleitores. Esse é o regime perfeito, uma mistura de monarquia, pela preeminência dum só, de aristocracia pela multiplicidade de chefes virtuosamente qualificados, de democracia ou de poder popular, pelo facto que simples cidadãos poderem ser escolhidos como chefes e que a escolha dos chefes pertence ao povo.
Há nesta passagem duas partes: Tomás expõe primeiro dois pressupostos e a seguir faz a sua síntese. O primeiro destes dois pressupostos é um princípio geral que afirma a necessidade e as vantagens da participação de todos na coisa pública. No segundo pressuposto, Tomás lembra um elemento da tradição filosófica, ao mencionar a doutrina aristotélica dos diversos regimes políticos. Neste estádio da argumentação, não assinala senão a monarquia e a aristocracia porque o fundamento da democracia está formulado no primeiro ponto. Através da combinação dos dois elementos obtém-se o melhor regime.
Esse é o núcleo da segunda parte do texto em análise. O regime misto que resulta desta síntese combina as vantagens dos diferentes regimes. Mas o fundamental é que Tomás nesta segunda parte indique em que consiste a participação de todos: "tum quia ex omnibus eligi possunt, tum quia etiam ab omnibus eliguntur", ou, "ex popularibus possunt eligi principes et ad populum pertinet electio principum".

Participar no poder, de acordo com este texto, significa eleger os governantes e poder ser-se eleito. Esta dupla capacidade constitui o elemento democrático desta constituição mista. Note-se que ele utiliza duas vezes o termo democratia num sentido positivo. O segundo texto da Suma em que se trata do melhor regime permite-nos descobrir uma outra forma essencial de participação no poder.




Conclusão
No trabalhlo acima apresentado, conclui-se que o Filósofo São Tomás de Aquino foi um dos defensores da Escolástica, método dialético que pretendia unir a fé a razão em prol do crescimento humano.
Percebe-se também que Tomás de Aquino não é um autor particularmente original no que toca à doutrina política, mas sim um seguidor das teorias já desenvolvidas. Ele aparece mais para inovar, aglutinando as mesmas teorias de modo a ter-se um bom  funcionamento no Reino. Teve como alicerses para as suas obras, as teorias de Santo Agostinho para a parte Divina e Aristóteles e Cícero para a razão.



Bibliografia
Internet:

Livro do aluno, Filosofia 12ª classe- Plural editores

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